Estratégias para o ensino profissional no sec. XXI

Abr 6, 2018

É imperativo repensar o ensino profissional, repensar os seus métodos, estratégias, conceções. É necessário avançar num processo inovador, ousando romper com quadros mentais e metodologias do passado.

Reinventar, adaptar e ajustar as práticas pedagógicas ao mundo global em que vivemos é o desafio permanente do ensino, em geral, e do ensino profissional, em particular. É esta reflexão que nos propõe Xavier Aragay, fundador do Reimagine Education Lab, projeto que, ao sugerir uma intervenção disruptiva no ensino, convida-nos a “girafiar” o meio onde nos movemos, isto é, a observar do alto, com amplitude, captando a diversidade das realidades observadas. Esta capacidade de observar e trabalhar, em perspetiva e prospetiva, individual e coletivamente, em função do meio e do indivíduo holisticamente considerado é essencial para o progresso do ensino profissional que queremos para o século XXI.

É este olhar que – acredito – dever estar na base do Projeto Educativo que almejamos para o ensino profissional em Portugal. É este olhar que está na base do Projeto Educativo da Escola de Comércio de Lisboa (ECL) e que, ao longo de 28 anos, temos vindo a afinar, num processo contínuo de renovação e reinvenção. Como em qualquer projeto, importa questionar, por um lado, o ponto de partida e, por outro lado, o ponto de chegada. É da síntese dos dois que resulta a evolução; uma evolução solidamente pensada e criativamente estruturada. Importar perceber o que queremos para os nossos alunos, formadores e colaboradores; o que queremos para a nossa sociedade, para o nosso mundo.

De uma sociedade profundamente industrial, passámos para uma sociedade cada vez mais digital, onde os processos de mudança são céleres, em muitos casos disruptivos. Vivemos num mundo cada vez mais incerto, complexo e volátil. As profissões do passado darão lugar a novas formas de trabalho (em muitos casos ainda por descobrir).

É, assim, imperativo repensar o ensino profissional, repensar os seus métodos, estratégias, conceções. Urge ousar, desafiar o ensino, tal como a Internet e a digitalização atual nos desafiou (e continua a desafiar). É necessário avançar com um processo inovador, ousando romper com quadros mentais e metodologias do passado e respondendo de forma mais eficaz aos desafios dos nossos tempos. Acredito que não há apenas uma estratégia, mas estratégias, e estas devem girar em torno dos seguintes cinco eixos transformadores:

1. Missão educativa. Definir o modelo de pessoa que se pretende formar, ou seja, o perfil do aluno à saída de cada ciclo formativo.

2. Recursos. Avaliar os recursos disponíveis e redefinir, alterar ou criar novos, tendo em conta a missão educativa. As salas de aulas estanques, estáticas e pouco apelativas devem ser substituídas por espaços abertos, flexíveis e polivalentes que permitam uma nova organização da aprendizagem, apostando em espaços organizados de acordo com o tipo de trabalho e atividades a desenvolver e munidos de equipamentos e tecnologia adequados.

3. Atividades. Redefinir e criar dinâmicas ou ações de acordo com as estratégias definidas e os objetivos a atingir. A divisão estanque entre disciplinas deve ser esbatida ou mesmo desaparecer, dando lugar a verdadeiros projetos integradores, centrados não só na identificação dos problemas como também na resolução dos mesmos de forma criativa. As várias competências e “matérias” são integradas, trabalhadas, processadas e apreendidas no âmbito de projetos. A distribuição da carga horária deve ser flexível e não ostracizada. O trabalho colaborativo entre alunos-alunos, alunos-professores, professores-professores é fundamental. Deve abrir-se, conscientemente, as portas às novas tecnologias e incentivar a participação ativa das famílias, de entidades públicas e privadas.

4. Laboratórios Pedagógicos. Criar, alimentar e integrar ambientes de aprendizagem inovadores, que repliquem, pedagogicamente, o mercado de trabalho. Estes são imprescindíveis na implementação de práticas pedagógicas no contexto do ensino profissional, devendo ser desenhados, concebidos e dinamizados de acordo com as qualificações que pretendem servir.

5. Avaliação. O processo de avaliação é crucial e este deve ocorrer a diferentes níveis e em diferentes momentos do ciclo de aprendizagem. Em primeiro lugar, cumpre avaliar os resultados atingidos pelos alunos. Esta avaliação deverá realizar-se, no final de cada trimestre, com base em critérios pré-definidos e discutidos com os próprios alunos. Cumpre, igualmente, avaliar os processos, as metodologias implementadas. Esta avaliação deverá realizar-se, anualmente, partindo da observação direta da atividade educativa e da comparação com a respetiva planificação. Por último, mas não menos importante, cumpre avaliar os impactos que os processos e as metodologias pedagógicas desenvolvidas surtiram nos alunos. A avaliação dos impactos deverá realizar-se no final de cada ciclo formativo, a curto, médio e longo prazo, num processo contínuo de aferição, ajustamento e evolução.

Na ECL, temos caminhado – orgulhosamente – um percurso pautado pela inovação, ousando romper com modelos estandardizados de aprendizagem. Uma inovação que se discute, negoceia e se concretiza, colaborativamente, dia após dia, com base numa observação atenta das várias paisagens onde nos movemos. Desejamos mais. Trabalhamos para que o ensino profissional se desafie e mergulhe num processo de inovação disruptivo; uma escola invertida! Uma escola que dê empoderamento à comunidade educativa para sentir que podemos mudar e que a mudança depende de todos em conjunto. Uma escola em que os alunos são os protagonistas das suas próprias aprendizagens. O aluno aprende, fazendo e refletindo sobre o que faz. O papel do professor é o de criar as condições necessárias e estimular a curiosidade e a vontade de aprender.

Esta metodologia fomenta a autonomia dos alunos, estreita os vínculos entre alunos-alunos, alunos-professores e entre professores-professores, permitindo experiências pedagógicas mais participativas e participadas. Esta abordagem permite também um incremento de um bom ambiente de trabalho nas várias geografias em que alunos e professores, bem como parceiros da escola se encontram, quer no ambiente de salas de aula ou laboratórios pedagógicos, quer no ambiente empresarial, numa tentativa inteligente de criar pontes funcionais e fundacionais entre a escola e o mercado de trabalho onde os nossos alunos, cidadãos atentos e curiosos, criam o seu sucesso e alimentam o sucesso de projetos com mundo.

Diretora da Escola de Comércio de Lisboa
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.

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