“Temos um compromisso com a empregabilidade na Guiné-Bissau”

Jul 23, 2018

O Grupo Ensinus vai abrir em setembro, na Guiné-Bissau, o Instituto das Profissões e Tecnologias, com 13 cursos que visam a melhoria dos conhecimentos e o domínio da língua portuguesa. A administradora do grupo português, Teresa Damásio, e Martilene dos Santos, administrador delegado desta nova instituição de ensino, falam-nos da aposta além-fronteiras.

A menos de dois meses da abertura do Instituto das Profissões e Tecnologias (IPT), as atenções estão agora voltadas para a campanha de marketing e de divulgação sobre a oferta formativa junto dos órgãos de comunicação social e das escolas.

São 13 cursos que vão desde técnicos de serviços jurídicos, registo e notariado até inspetores de pesca industrial e artesanal e que foram escolhidos depois de um “diagnóstico realizado por peritos na matéria” sobre as necessidades do mercado guineense.

“O que nos move é o compromisso que temos com a empregabilidade na Guiné-Bissau e o desenvolvimento do país. É preciso dotar as empresas com mão-de-obra qualificada”, salientou o administrador delegado desta nova instituição de ensino.

Em entrevista ao Link To Leaders, Teresa Damásio e Martilene dos Santos revelaram ainda que não vão ficar por aqui e que o próximo passo é Cabo Verde, onde pensam abrir em setembro de 2019 uma outra instituição de ensino voltada para a hotelaria.

O IPT é a mais recente aposta do Grupo Ensinus na Guiné-Bissau. Já está tudo pronto para a abertura?

Teresa Damásio (TD): Está quase tudo pronto. Delineámos um cronograma de implementação do IPT que passa, em primeiro lugar, pela reabilitação das infraestruturas. Obviamente, o primeiro passo foi a acreditação junto do Ministério da Educação e das Autoridades da Guiné do Instituto e dos cursos, que permitem ter dupla certificação. Os nossos alunos poderão prosseguir estudos para o Ensino Superior. É este o verdadeiro core business do IPT, que é uma escola de ensino profissional.

Temos também em curso toda a campanha de marketing e de divulgação junto dos meios de comunicação social, na Guiné e em Portugal, e uma campanha junto das escolas em que creio que estamos a ser pioneiros. Acredito que outras instituições vão seguir o nosso exemplo.

Por vezes, as pessoas não sabem exatamente a que corresponde a qualificação dada por uma escola profissional. Assim, quando vamos a uma escola explicamos o que fazemos e nossa oferta formativa, o que é o ensino profissional e qual a qualificação que o estudante que vai ingressar na nossa escola poderá obter, bem como a sua habilitação caso queira prosseguir estudos. Nas escolas é feita a campanha com o nosso diretor Pedagógico e com o chefe dos Serviços de Administração Escolar. A nossa preocupação é explicar qual é o nosso nível de ensino para que quando os alunos ingressem na escola sejam efetivamente candidatos válidos.

O ensino profissional promove a criação de emprego e o empoderamento dos seus estudantes. Nesse sentido, resolvemos dar o nosso sim ao desafio que nos foi lançado de abrir esta escola.

Porquê a Guiné-Bissau?

TD: Porque foi um dos primeiros países onde nos instalámos. O primeiro, em bom rigor, foi Moçambique depois foi Angola e, quase ao mesmo tempo, a Guiné-Bissau. Portanto, estamos há cerca de 20 anos, desde a instalação do projeto, na Guiné, como projeto educação. O Martilene foi um dos fundadores desse nosso projeto universitário, mas a dimensão do país e os laços institucionais que fomos criando com as autoridades da Guiné-Bissau, ao longo destes anos, fez-nos ter, por exemplo, uma instituição que, neste momento, tem perto de cinco mil alunos em Bissau. Temos um liceu e uma ligação forte ao país o que nos fez receber, nos últimos anos, muitos pedidos para abrir uma escola de ensino profissional.

Por outro lado, em Portugal temos uma das maiores escolas profissionais do país, com assinalável sucesso junto dos seus alunos e da comunidade. Somos reconhecidos pelo trabalho que desenvolvemos e temos constatado que o ensino profissional promove a criação de emprego e o empoderamento dos seus estudantes. Nesse sentido, resolvemos dar o nosso sim ao desafio que nos foi lançado de abrir esta escola. Montámo-la num tempo absolutamente recorde. Acredito que vamos esgotar as vagas.

Temos também um profundo entrosamento com a nossa embaixada, com o Governo da Guiné e com a embaixada da União Europeia em Bissau, que nos dá muita força e muito alento para levarmos adiante a nossa missão. O papel da escola para um estudante guineense é completamente diferente do papel da escola para um estudante português. Portanto, ter uma escola num país onde as pessoas sabem que o facto de se tirar um curso vai significar um maior grau de felicidade e de integração na sociedade, e que toda a família vai beneficiar com isso, dá-nos uma grande responsabilidade.

O IPT será uma escola técnico-profissional que irá trabalhar seguramente muito próximo do setor privado, no sentido de criar desenvolvimento da economia na Guiné-Bissau.

Que importância terá a implementação do IPT localmente?

Martilene dos Santos (MDS): A importância da implementação do IPT é uma importância particular e ímpar. De facto, o IPT traz inovação que vai ao encontro da necessidade dos guineenses. É verdade que o IPT dentro da sua estrutura tem certos benefícios e vantagens para o ensino num país. É difícil, às vezes, ter acesso ao ensino, mas quando se oferece acesso à educação os guineenses aceitam imediatamente. Isto está relacionado com a cultura do guineense que gosta do saber aprender. O IPT representa uma referência porque faz parte do maior grupo de ensino privado em Portugal. O IPT é uma extensão de uma escola portuguesa e os guineenses querem ter uma escola que pertence a um país que faz parte da OCDE. Repare que o nível de exigência tem de ser bastante considerável. O IPT tem feito uma abordagem e tem manifestado total abertura em relação à administração pública e ao Governo da Guiné-Bissau que também acolheu muito bem esta iniciativa. Da nossa parte também oferecemos a disponibilidade de trabalhar com o Governo no sentido da capacitação dos trabalhadores públicos.

Também temos tido contacto com as empresas para as ajudar a capacitar os seus colaboradores. O IPT será uma escola técnico-profissional que irá trabalhar seguramente muito próximo do setor privado, no sentido de criar desenvolvimento da economia na Guiné-Bissau. Para isso acontecer, infelizmente, não pode ser de forma mágica. Tem de surgir como sequência de algum trabalho que só pode ser feito a partir da educação. Significa que temos de formar os funcionários das empresas. Significa que temos de capacitar os jovens para terem alguma criatividade. São esses os ingredientes que o IPT quer aportar ao mercado, à nossa economia.

O nosso core business é trabalhar a capacitação do jovem guineense, quer em termos de entrada no mercado, quer em termos dos que já estão no mercado. Vamos fazê-lo com ferramentas diferentes, inovadoras para melhorar o nível de satisfação da juventude e não só. O nosso objetivo é trabalhar com jovens dos 14/15 anos até aos 65 anos.

O estudante a partir do momento em que está no IPT já tem noção de que está no mercado de trabalho. Está a aprender, mas também já deve começar a praticar.

Quais são as expetativas para este primeiro ano letivo?

MDS: Vai ser um ano muito exigente porque eu tive o privilégio de participar no lançamento da primeira instituição do Grupo, na Guiné-Bissau, que é a Universidade Lusófona. Não foi muito fácil, mas a procura também foi bastante significativa, por isso foi um sucesso. É verdade que os desafios do passado foram completamente diferentes dos que temos hoje. Hoje, os desafios são termos uma proliferação bastante acentuada de instituições de ensino. A mudança nem sempre é bem acolhida por nós. Mas quando explicamos às pessoas que o IPT é uma exceção, como o INETE, que é escola de ensino profissional em Portugal, somos vistos de outra forma. O IPT proporciona equivalência a uma escola em Portugal. Quem estudou no IPT tem acesso a toda essa rede na União Europeia.

A metodologia que vamos usar será também desafiante para os jovens. Vamos recorrer às hard skills, que vamos ajustar regularmente, como também à componente de soft skills. Isso significa que o estudante a partir do momento em que está no IPT já tem noção de que está no mercado de trabalho. Está a aprender, mas também já deve começar a praticar.

Quais os cursos que irão ministrar e de que forma correspondem às necessidades de formação da Guiné-Bissau?

MDS: Teremos 13 cursos de oferta formativa – com estágio integrado desde o primeiro ano – que visam a promoção e melhoria dos conhecimentos e domínio da língua portuguesa. São eles: Técnico de Receção; Técnico de Restaurante e Bar; Técnico de Mecatrónica; Técnico de Mecatrónica Automóvel; Técnico Auxiliar de Saúde; Técnico de Ótica; Técnico de Sistemas de Saneamento e Tratamento de Águas; Técnico Operador Máquinas Agrícolas; Técnico de Eletricidade e Telecomunicações; Técnico de Controlo de Qualidade Alimentar; Técnico de Serviços Jurídicos, Registo e Notoriado; Técnico de Conservação e Comercialização de Pescado e Técnico de Inspetores de Pesca Industrial e Artesanal. Temos estes cursos regulares, mas vamos ter cursos short term, feitos à medida, em função das necessidades das empresas.

De que forma é que o IPT conseguirá assegurar um compromisso dos alunos com a empregabilidade na Guiné-Bissau?

MDS: O IPT propõe-se a fazer mais ao estimular os nossos alunos a começarem a sua própria empresa. Por exemplo, quando falamos de um serviço doméstico, estamos a falar de serviços técnicos ligados ao parque automóvel. Então esses jovens podem apostar no own business, criar uma empresa própria, porque a necessidade vai aumentar cada vez mais. Hoje temos um parque automóvel com muitos carros, alguns já eletrónicos. Temos um parque com máquinas domésticas por reparar por falta de mão-de-obra. Então, quando criamos uma equipa, ajudamos os alunos a perceberem que têm de ter um own business e isto é empreendedorismo. O Governo seguramente promove o emprego e vai estar à disposição do IPT junto dos bancos para criar mecanismos, dando a concessão de políticas públicas aos jovens.

O IPT terá capacidade para quantos alunos?

MDS: Neste momento estamos a contar com 380 alunos.

O futuro na Guiné-Bissau passa, necessariamente, pela educação.

Como vê o futuro da educação na Guiné-Bissau?

TD: O futuro da educação da Guiné passa, claramente, também pelas nossas instituições e passa por nós. Portanto, dá-nos uma responsabilidade muito grande. Mas precisamos que haja estabilidade, que haja, principalmente, por parte das autoridades da Guiné a consciencialização que o povo guineense merece ter um país estável, com um quadro institucional estável onde haja um Governo e um Presidente da República que consigam, por exemplo, acabar um mandato e uma Assembleia Nacional que consiga terminar o seu mandato.

Sabemos que, neste momento, há esta vontade. E há este discurso e todos os passos que estão a ser dados evidenciam, efetivamente, estes marcos mentais por parte dos dirigentes da Guiné. Portanto, quero acreditar que os marcos mentais se vão traduzir em ações que é o que normalmente acontece. Portanto, eu vejo com esperança o futuro da educação e do país.

MDS: O futuro na Guiné-Bissau passa, necessariamente, pela educação. Temos um país com mais de 40 anos. Se fizermos uma comparação com outros países, podemos considerar que ainda é um país pobre, consequência de algumas mudanças estruturais e do sistema também. De facto, de algum tempo para cá, temos assistido a alguma instabilidade ao nível do setor da educação. Quando queremos acreditar no futuro da educação na Guiné-Bissau temos de ter essas variáveis conjunturais.

Nós, guineenses, não nos podemos poupar, não nos podemos cansar de felicitar a iniciativa. Temos de trazer um modelo de ensino, uma escola de referência para o futuro da Guiné-Bissau. Hoje, cada vez mais, estamos na era da convergência, do conhecimento, das tecnologias. Cada vez mais somos confrontados com a combinação da educação com as tecnologias. O IPT aporta essa valência. O Estado tem de interferir para garantir alguma funcionalidade regular do setor. Mas é preciso estipular iniciativas privadas para construirmos um futuro melhor no setor da educação.

O país e a sua população são bastante jovens. Ao não conseguirmos assegurar a educação junto dos mais novos, estaremos a comprometer o futuro. Por isso, digo que o futuro da educação da Guiné-Bissau passa por cada um de nós, passa pela educação. O Governo, constitucionalmente, tem essa missão, mas tem de criar condições com qualidade e rigor para sermos sustentáveis. Não há outra alternativa.

 

Artigo publicado a 23/07/2018 em Link to Leaders

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