Desde que me lembro de ser gente que a educação está presente na minha vida em várias dimensões. A primeira e aquela que é transversal a todas as pessoas, ou deveria ser se estivermos atentos aos números e verificarmos que há 175 milhões de crianças que não estão matriculadas na educação infantil, de acordo com o último Relatório da UNICEF “A World Ready to Learn: Prioritizing quality early childhood education”, e que para mim foi determinante na minha história de vida visto que ingressei aos três anos numa escola bilingue e o inglês fazia parte do meu dia a dia, a par do português.
Os meus pais achavam que a fluência em língua inglesa seria fundamental para o meu futuro. Tinham razão! Tive mais sorte que os milhões de crianças que não entraram para a escola na segunda infância (dos três aos seis anos). Simultaneamente o meu pai entrava no mundo da educação e iniciava o seu percurso na criação de instituições de ensino superior e secundário, o que contribuiu para que tivesse desde cedo a perceção de que a educação era algo muito importante para o meu futuro individual e coletivo, enquanto membro duma comunidade que, desde cedo aprendi, deveria ser colaborativa.
Ao longo do meu percurso escolar fui sempre aprendendo a ser e a estar num ambiente multicultural.
Quando terminei a primeira fase dos meus estudos na universidade comecei a trabalhar em educação internacional – International Education – no grupo de educação e saúde, onde ainda hoje exerço as minhas funções profissionais, embora noutra área e noutro nível hierárquico, e tive sempre como grande objetivo levar a missão da nossa organização para outras latitudes e longitudes.
Ao longo de 23 anos participei em múltiplos fóruns, em diferentes continentes, e conheci pessoas de todas as raças, crenças e identidades. Cresci enquanto profissional e principalmente enquanto pessoa. Paralelamente, o meu pai prosseguia de forma resiliente o cumprimento do objetivo de ultrapassar o Bojador e as Tormentas e abria instituições de ensino em comunidades diversas e longínquas, mas unidas pela língua e por valores entrelaçados durante séculos.
Fui assim crescendo a acreditar e a consolidar a crença que só através da educação o mundo se tornará um espaço mais acolhedor, mais justo, igual, equitativo e solidário. Um mundo que por ser diverso precisa duma educação que promova a diferença, que seja disruptiva e que não permita a unicidade e a intolerância ao outro, que é sempre diferente de mim.
Se olharmos para a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a interpretarmos de forma literal podemos ser levados a pensar que o clausulado jurídico ali contido é de fácil aplicação pois o previsto no artigo 1.º – “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade” -, pressupõe uma verdade insofismável, mas que a realidade teima em contrariar todos os dias.
Por isso é que eu pertenço àquele grupo de pessoas que acredita que a educação é o caminho para que o princípio da Dignidade Humana seja uma realidade transversal a todos os continentes. No entanto, isso obriga a um caminho constante em busca do conhecimento através de metodologias e autores globais pois o impacto da nossa ação será proporcional à dimensão da excelência colocada nas nossas aprendizagens.
Para sermos cidadãos do mundo precisamos que a educação formal, não formal e informal seja polvilhada em igual medida pelo local e pelo global!
Teresa Do Rosário Damásio, Administradora do Grupo ENSINUS